Um retrato teu na pós-modernidade

O eu ser feliz
Somente como
As selvagens flores astrais
Podem ser

.
O eu acordada
Com a divinal graça do alvor
Em um novíssimo dia
Ao lado teu
.
Um sorriso ameno
E um abraço eufônico teu
Eu só posso ser feliz
Como as álgidas negras flores
Podem ser
.
O eu acordada
Com o alvor do astro rei
Em um novíssimo dia
Ao lado teu
.
Não! Não sensualize assim
Somente feche as nevoentas cortinas
Não! Não venha me embair
Somente apague
Todas as sibilinas luzes
Dispa-se
De todas as fluídas mentiras
E de todas as infindáveis
Desculpas abstratas
E débeis hipérboles afins
.
O eu-ser feliz
Como as imaculadas flores vagas
Podem o ser
Como um sonho bom
Uma quimera que nasceu
E morre em nanosegundos

Meu contínuo ato

 Fico eu a pensar…
Nas minhas utopias.
E na nova geração que já não sonha mais!
E pensar nas múlti-plas razões…
Do meu contínuo ato de escrever!
Textos que ninguém vai compreender.
Aí vem o desejo…
De revisar os meus velhos textos!
E lembro-me também de re-visitar.
Meus antigos mestres já mortos!
Então eu ensaio o meu Adeus às Armas!
Eu não consigo!
Ensaio o meu Motim!
Eu não consigo!
Ensaio o meu Boy-cote!
Eu não consigo!
Ensaio a minha Greve de fome!
Eu não consigo!
Ensaio o meu Retorno à vida.
Eu não consigo!
Aí tento escrever algo novo…
Eu não consigo!
Tento viver outra vida!
Eu não consigo!
Tento novos hábitos!
Eu não consigo!
Tento novos padrões de consumo!
Eu não consigo!
Tento ficar sozinho…
Eu não consigo!
Tento quebrar o silêncio sepulcral!
Em mim…
E não consigo!
Tento entender as pessoas!
Eu não consigo!
Tento compreender-te…
Eu não consigo!
Tento me esconder de ti…
Eu não consigo!
Tento te esquecer por completo…
Eu não consigo!
Ensaio me entender…
Eu não consigo!

Piano perfeito

Harmonias desarmônicas
Um vibrato sintéctico
Que possa me guiar
Uma lembrança boa, benquista
Benfazeja
Em tempos do cólera
Um sentimento caridoso
Em tempos apoplécticos
De desesperos sem fim
***
Harmonias desarmônicas
Um mavioso vibrato ao longe
Lento e enluarado
Que possa me guiar
Em meio a trágica
Inexistência que me lançaram
Em tempos imemoriais
***
Harmonias desarmônicas
Um nevoento vibrato lento
Longo e melancólico
De uma música quase perfeita
Um negro dedilhar imaginário
Em outra dimensão
***
Harmonias desarmônicas
Um vibrato lento
Longo e dorido
Em um prelúdio
Uma dança, graciosa,
Em belo sorriso perolado
Que iluminando
A noite infinda
Que vai mudar o nosso final
***
Harmonias desarmônicas
Um vibrato lento
E longo
Entre álgidas e hialinas plumas
De cristais quebrados