Epifânia Abstrata

O palco é o habitat
Dos artistas
***
Ah as luzes
As luzes da ribalta
A ciclorama
Os aplausos
Os gritos
Os vivas efusivos
E a saudação curvilíneo
Dos artistas ao público
Que pede estridente
Um bis
Ao ver descerrar a cortina
***
Eu?
Eu fico na porta de entra
Uniformizado estático
A espera por tudo que não vem
***
O palco é o habitat natural
De todos os artistas
O microfono
Os alto-falantes
E voz estridente
Que retumba para o além
Da infinitude cósmica
***
Eu?
Eu esqueço o texto
***
Eu?
Eu destoa de tudo
E de todos
Com a voz embargada
Olhando para a público sentado
Que espera e espera
Por aquilo que não vem
E que nunca virá
***
Eu?
Sou eu tentando ser maior
Que a censura cibernética
Facebookiana
E não consigo
***
Eu?
Eu admiro extasiado
A artista no palco
A minha vaporosa negra musa
Distante de tudo
E de todos
***
Eu?
Eu tomo a pena
E o mata-borrão
A hialina folha em branco
***
Eu?
Tento compor um poema
Com poesia abstrata
E não consigo
***
Eu?
Eu martelo o teclado
Com fúria titânica
Tento compor uma prosa simbolista
E não consigo
***
Eu?
Tento me exilar
Na arte absoluta
E não consigo
***
Eu?
Tento esquecer de mim mesmo
Mas não consigo

A cidade das chuvas

Na cidade das chuvas
Ela decidiu ganhar as ruas
Em um ledo dia de sol

Aquela jubiloso dia de sol
Ela toda radiante
Vestiu o que de melhor tinha
Seu sorriso perolado
Em um diáfono vestido floral

Na cidade das chuvas
Justamente naquele dia de sol
Ela ganhou as ruas dissolutas


E foi se reunir
Com o que melhor existe
Na vastidão cósmica sem fim
Foi se encontrar consigo mesma