Jogue minhas cinzas no mar

Jogue minhas cinzas ao mar,
Para que eu possa explorar
Um mundo que sempre me fascinou.
Jogue minhas cinzas ao mar,
Mesmo que eu não saiba nadar,
Faça isso por amor.

Deixe-me em suas ondas flutuar,
Deixe-me nesse mistério me aventurar,
Há tanto que eu preciso aprender.
Agora que estarei tão sozinho
O mar me indicará o caminho
Para tudo que terei que entender.

Jogue minhas cinzas ao mar,
Preciso de alguma forma encontrar
Respostas de uma vida inteira.
Guarde boas lembranças de mim,
A morte nunca será o fim,
A vida que é passageira.

O amor é o que alimenta as raízes,
Lembre-se dos momentos felizes
E das nossas conversas ao luar.
Chore, se chorar for preciso,
Mas parta com um lindo sorriso
Depois de jogar minhas cinzas ao mar.

Hoje

Hoje te encontrei de repente,
E te perdi como sempre.
Pelas ruas que não conheço,
Pelos becos que me escondo,
Pelas trilhas que caminho,
Por onde quer que eu ande,
É sem você, é sempre sozinho.
Hoje te encontrei por acaso,
Não eras minha, isso é um fato.
Pelas nuvens que imagino figuras,
Pela ausência que tanto me tortura,
Pelo vento que esfria meu corpo
Pela chama que não aquece minha alma.
Lembro-me de ti, continuo sozinho.
Hoje te encontrei em pensamento,
E por esse mísero momento,
Foi minha maior alegria.
Lembranças de uma fantasia,
Que tanto me inspirou,
Que tanto me cativou
Até me deixar sozinho.

A esperança – Augusto dos Anjos

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença,
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.

Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?

Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a Crença do fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro — avança!

E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da Morte a me bradar; descansa!