O vento

Ontem mesmo o vento sussurrou teu nome

E a saudade que já era enorme
Tomou conta de meus pensamentos.
E no desencontro de nossos dias
Nas tristezas e alegrias
Eu recordei nossos melhores momentos.

Ontem mesmo a chuva lavou minha alma
Das verdades que causaram traumas
Dos enredos mais complicados
Das agruras da saudade,
Das mazelas da vaidade,
Dos corações tão despedaçados.

Ontem tudo parecia tão diferente,
Eu me via mais contente,
Em paz com os meus sentimentos
Sem ódio nem rancor,
Sem mágoas ou dissabor
Nenhum pingo de ressentimento.

Então, que nesse novo amanhecer
Tudo enfim possa acontecer
Dentro da maior tranquilidade
Com a marca da paixão,
Com alegria no coração
E com a mais profunda honestidade.

MOACIR DINIZ

Renasce o Amor

Porque fizestes renascer o amor,
Num peito já tão amargurado.
De tanto sofrer de amor,
Meu coração está magoado.
Por uma existência de lutas e fracassos,
De tanto amar estou virando trapo,
Sempre sem nunca ter sido compreendido.
A minha vida já não tem mais sentido,
Porque tu eras a minha única esperança,
Fingiste amar-me,
E eu, como criança,
Agradecido com belo presente,
Pus-me a sonhar feliz sorridente.
Mas como o sonho não é realidade,
Agora, sinto que foi tudo ilusão,
Por que brincar com um pobre coração?
Se tu sabias que irias fazê-lo sofrer.
Tu te divertes, com meu padecer,
Alegras-te com sofrimento meu?
Se for assim até ficarei feliz,
Por saber que agindo assim, tu tens felicidade,
E em troca do meu amor, tu me devolves maldade.
VIVALDO TERRES – ITAJAÍ – SC

Epifânia Abstrata

O palco é o habitat
Dos artistas
***
Ah as luzes
As luzes da ribalta
A ciclorama
Os aplausos
Os gritos
Os vivas efusivos
E a saudação curvilíneo
Dos artistas ao público
Que pede estridente
Um bis
Ao ver descerrar a cortina
***
Eu?
Eu fico na porta de entra
Uniformizado estático
A espera por tudo que não vem
***
O palco é o habitat natural
De todos os artistas
O microfono
Os alto-falantes
E voz estridente
Que retumba para o além
Da infinitude cósmica
***
Eu?
Eu esqueço o texto
***
Eu?
Eu destoa de tudo
E de todos
Com a voz embargada
Olhando para a público sentado
Que espera e espera
Por aquilo que não vem
E que nunca virá
***
Eu?
Sou eu tentando ser maior
Que a censura cibernética
Facebookiana
E não consigo
***
Eu?
Eu admiro extasiado
A artista no palco
A minha vaporosa negra musa
Distante de tudo
E de todos
***
Eu?
Eu tomo a pena
E o mata-borrão
A hialina folha em branco
***
Eu?
Tento compor um poema
Com poesia abstrata
E não consigo
***
Eu?
Eu martelo o teclado
Com fúria titânica
Tento compor uma prosa simbolista
E não consigo
***
Eu?
Tento me exilar
Na arte absoluta
E não consigo
***
Eu?
Tento esquecer de mim mesmo
Mas não consigo