Meu contínuo ato

 Fico eu a pensar…
Nas minhas utopias.
E na nova geração que já não sonha mais!
E pensar nas múlti-plas razões…
Do meu contínuo ato de escrever!
Textos que ninguém vai compreender.
Aí vem o desejo…
De revisar os meus velhos textos!
E lembro-me também de re-visitar.
Meus antigos mestres já mortos!
Então eu ensaio o meu Adeus às Armas!
Eu não consigo!
Ensaio o meu Motim!
Eu não consigo!
Ensaio o meu Boy-cote!
Eu não consigo!
Ensaio a minha Greve de fome!
Eu não consigo!
Ensaio o meu Retorno à vida.
Eu não consigo!
Aí tento escrever algo novo…
Eu não consigo!
Tento viver outra vida!
Eu não consigo!
Tento novos hábitos!
Eu não consigo!
Tento novos padrões de consumo!
Eu não consigo!
Tento ficar sozinho…
Eu não consigo!
Tento quebrar o silêncio sepulcral!
Em mim…
E não consigo!
Tento entender as pessoas!
Eu não consigo!
Tento compreender-te…
Eu não consigo!
Tento me esconder de ti…
Eu não consigo!
Tento te esquecer por completo…
Eu não consigo!
Ensaio me entender…
Eu não consigo!

As cartas que nunca enviei

Entre tantos souvenirs que guardo comigo,
Estão as cartas que nunca enviei…
Repletas de frases bonitas,
Dedicatórias cheias de paixão e afeto,
Um amor contido e secreto,
Tanta coisa que desejei.
Ao escreve-las imaginava
O brilho no olhar da amada,
O rubor de sua face ao ler
O quanto a desejava todos os dias.
E como eram doces aqueles dias,
Como era doce o meu querer,
Pilhas e pilhas de cartas,
Letras desenhadas, coloridas,
Uma para cada dia de desejo,
Todas encerradas com um beijo,
Mas nunca enviadas.
Como eu gostaria que ela soubesse
Das minhas intenções, das minhas preces,
De como o meu corpo reagia
A cada pensamento cheio de alegria
Que eu detalhava naquelas cartas…
Que eu nunca enviei.
Lá estava tudo escrito,
O dito pelo não dito,
As confissões mais secretas,
Também as mais sinceras,
Porém, nunca enviadas.
Hoje penso como seria
Esses meus tristes dias,
Se a ela eu tivesse enviado,
Todos os dias, como pensado,
Essas cartas que eu escrevia.
Estaríamos hoje, lado a lado
Como dois apaixonados
Numa eterna fantasia?
Mas é tudo suposição,
E é só isso que ainda sei,
Feito lembranças de um passado
Onde tudo continuará guardado,
Feito as cartas que nunca enviei.

Colo de mãe

Mudei de cadeira, mudei de xícara,
joguei  fora o adoçante
e recriei meu café da manhã.
De nada adiantaram as mudanças,
tudo  tem outro gosto, tudo é fastio,
tudo  é uma esquisitice  aguda.
Estou macambúzia, gripada, mas nada dói em meu corpo.
Minha gripe é na alma, congestionada de saudade.
Ah, meu Deus! Dá-me a canequinha de lata,
o tamborete antigo e o colo de mãe
que  foram deixados  numa cozinha farta de aconchego.
Dá-me o fogão à lenha, o café de um coador de  pano
e os meus despreocupados anos de infância .
Hoje eu quero um remédio que me cure
dessa  dor inquietante de não  ser mais criança.